Lisboa – Um comunicado de uma suposta FLEC/PM, que reivindica a autoria do ataque contra a equipa togolesa em Cabinda, está a gerar confusão na imprensa. Os autores do ataque, FLEC/FAC, ainda não emitiram comunicado oficial.  «Esse comunicado que está a circular é um absurdo, essa FLEC/PM não existe, é virtual, não tem militares nem estrutura, é fruto da imaginação de um elemento que foi excluído da FLEC/FAC (Forças Armadas de Cabinda) e agora por vingança age dessa forma para descredibilizar o nosso movimento» declarou à PNN «Pirilampo», operacional da resistência em Cabinda, chefias miliares da guerrilha em Cabinda denunciam a mesma situação. Em Cabinda a «FLEC» tornou-se numa marca de referência sinónimo de nacionalismo e rejeição de Angola. Desde 1963, ano da criação da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) que surgem uma multiplicidade de movimentos com o mesmo nome a fim de beneficiarem do prestígio da FLEC. A partir de 1974 inicia efectivamente a luta armada pela independência de Cabinda. Na década de 80 a FLEC, e o seu braço armado FAC (Forças Armadas de Cabinda), controlavam mais de 70 por cento do território de Cabinda num espaço que designavam como «Zonas libertadas» geridas como um Estado independente. Uma cisão na FLEC na década de 90 levou à criação de um segundo movimento armado designado FLEC/PM, o qual não tem qualquer relação com o movimento que reivindicou os ataques de 08 de Janeiro, sob a liderança de Tiburcio Luemba este movimento acaba por alterar a sigla para FLEC Renovada. Após a morte de Jonas Savimbi e o abandono da luta armada pela UNITA, Angola investe militarmente em Cabinda, conseguindo desalojar a FLEC/FAC das suas bases fixas no Centro e Norte do enclave, enquanto a FLEC Renovada, apenas dominante no sul do território, sofre igualmente uma importante derrota. Fragilizados, ambos os movimentos, decidem fundir-se em 2004 numa só estrutura que adoptaria apenas a sigla FLEC. O presidente da FLEC/FAC assume a presidência da nova estrutura enquanto Antonio Bento Bembe, ex presidente da FLEC Renovada é empossado como secretário-geral. No entanto a fusão dos movimentos armados rivais nunca chegou a ser uma realidade, apenas a ala política efectuou algumas acções conjuntas. Bento Bembe opta pela cisão e negocia isoladamente a rendição. Nzita Tiago não reconhece as acções de Bento Bembe e o divórcio é consumado, regressando a FLEC à sua versão original de FLEC/FAC. Desde 1963 o denominador comum na FLEC é o seu presidente Nzita Tiago, 82 anos, ora adulado ora contestado, exilado desde 1988 em França. Ao longo dos 47 anos de existência a FLEC tornou-se numa autêntica fábrica de nacionalistas originando na proporção das dissidências o surgimento de clones de FLEC’s sem expressão: FLEC Vermelha, FLEC Lubota, FLEC Lopes, FLEC Original, FLEC Patriótica, FLEC Histórica, FLEC/PM e muitas outras. Apenas com uma existência virtual a maior parte destes movimentos sobrevivem através da internet, emitindo comunicados onde reivindicam falsas ameaças e operações fantasmas. A sigla FLEC além de uma «marca» tornou-se num fundo de comércio. Hoje o único movimento que dispõe de um aparelho militar operacional em Cabinda é a FLEC/FAC presidida por Nzita Tiago, em França, com vice-presidente Alexandre Tati e Estanislau Miguel Boma como Chefe do Estado-maior, ambos no interior de Cabinda. Contrariando a alegações de Angola quando afirma que «já não há guerra em Cabinda» a FLEC/FAC continua activa e operacional, tendo contudo alterado, desde 2002, a sua estratégia logística e militar. As bases fixas passaram a bases móveis e efémeras, e as forças militares estão distribuídas por todo o território em pequenos grupos de comandos que se fundem com a população. Desde 2006 que Nzita Tiago afirma que está disposto a negociar com Angola uma solução pacífica para o conflito Cabinda. «Nunca obtive qualquer resposta de Luanda» afirma o líder da FLEC. Face ao silêncio de Angola e da comunidade internacional a resistência passa a atacar alvos estrangeiros acusados de «cumplicidade com o Governo do MPLA». Algumas empresas madeireiras são atacadas assim como veículos de empresas chinesas. O pico da acção ocorreu com a morte de um cidadão brasileiro. Entretanto Mesmo assim Angola recusa reconhecer que a guerra persiste em Cabinda e atribui a autoria dos ataques a «grupos de bandidos». O CAN em Cabinda seria a cartada angolana que testemunharia a pacificação do território. Após o ataque contra delegação togolesa a FLEC reverteu a situação e todos os médias do planeta têm agora a atenção virada para o conflito em Cabinda e para a FLEC
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